Nas últimas décadas a igreja cristã tem se entregado ao medo, murmúrio e derrotismo, sobretudo no contexto urbano ocidental, se acovardando diante de todo vento de doutrina que sopra contra nosso arraial.
Abrimos a guarda de modo que se os apóstolos, pais da igreja, escolásticos e puritanos nos visitassem em uma viagem no tempo, se entristeceriam ao ver um corpo tão deformado, fragmentado e rendido aos prazeres do presente século. Nossa geração deve se envergonhar ao se comparar com os parâmetros básicos do Evangelho.
Creio que ainda habitamos um mundo pré-cristão, e que, do futuro, olharemos para o presente com regozijo pela graça que nos livrou da condição vigente. Hoje temos instituições infrutíferas e insípidas, que são formatadas de modo a termos um comportamento inofensivo perante o mundo. Não assumimos o papel daqueles que devem transtornar o mundo. E quando apresentamos algum tipo de confronto, nossas palavras parecem reduzidas a esferas específicas.
Esquecemos que Cristo reivindica sua soberania sobre cada centímetro da vida.
Cristo exige que a sua Igreja, acima de tudo, se coloque em pé. Se levante entendendo que somos servos de um Rei que governa tudo e que esmaga todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. Cristo exige que não sirvamos a Mamon, que não sejamos seduzidos pelas comodidades e subornos sensuais que nos serão oferecidos no banquete da Babilônia. Cristo exige que resistamos ao Diabo, exortando os homens para que cumpram seu dever de educar suas famílias no caminho da Palavra. Convoca os líderes a pastorearem e açoitarem a sua igreja com o chicote da disciplina e da pregação, corrigindo-nos de nossos maus caminhos.
Minha oração é para que o Espírito Santo levante homens e mulheres que se renderão nanometricamente diante do Senhorio de Cristo, buscando aplicar sua Palavra como modelo estrito e basal para absolutamente todos os detalhes da vida.
Hoje vivemos uma religiosidade rasa e um tanto quanto restrita aos domingos. Domingos esses que sequer somos capazes de manter uma reverência durante o culto. Cultos em que sequer somos capazes de conduzir e organizar de maneira solene e viva.
E essa ausência de vida no culto (e vida soprada pela boca de Deus através da Palavra) provoca uma completa ausência de culto na vida. E como o coração humano é território sombrio onde se confeccionam infindos ídolos, ele não aceita nunca um vácuo de poder. Se meio yoctômetro da nossa existência não se submete ao cetro do Rei Celestial, isso significa que esse pedaço permanece sob domínio do ego, do eu, do culto a si próprio (que é o culto a Satanás).
Gradualmente, na medida em que a igreja decaiu em frieza, laicismo, covardia, timidez e medo, entregamos nossos pensamentos, atos, famílias, sociedades e hábitos para ficarem sob supervisão e cuidado do reino das trevas.
Gradualmente, mas então de repente, toda uma sociedade entregou a sua força de trabalho e capacidade criativa como sacrifício de louvor a Mamon, nos entregando de maneira devassa, voluptuosa, luxuriosa e inebriante a um sistema financeiro-econômico global que é baseado no furto, na morte, na mentira, na extorsão e em toda sorte de impiedade que o mundo moderno pode conhecer.
O trabalho e a interação econômica foram dados ao homem como mandato antes mesmo da Queda. Agora, num mundo caído, precisamos lidar com o pecado que insta nossos corações a cobiçar aquilo que é do próximo, a desejar mais do que nos é devido, criando artimanhas e mecanismos complexos para usufruir do trabalho alheio. Assim como Nimrod, arrogamos a pretensão de sermos poderosos caçadores diante de Deus, agindo de maneira animalesca, desprezando a vida do nosso próximo, desfigurando assim a Imago Dei que há no outro.
Desde roubos ocasionais, opressão por parte de empregadores, assaltos e o trabalho forçado, a humanidade tem descoberto diversas e sofisticadas formas de violar a lei de Deus e tentar burlar a ordem natural.
Nos últimos séculos vimos o nascimento de uma sofisticada e complexa ferramenta de espólio massivo: o sistema financeiro fiduciário.
Fiduciário porque crê em si próprio, possui fé em si mesmo e exige que confiemos nele, não em Deus. O homem, em sua arrogância, após ouvir a voz da serpente, acredita que se tornou igual a Deus e que também pode executar uma criação ex-nihilo assim como o verdadeiro Criador. O sistema fiduciário consiste basicamente na criação de falsa riqueza, na ilusão de que o homem possui autoridade para criar dinheiro do nada. Assim como no início Deus disse “faça-se a luz” (fiat lux), hoje o homem diz “faça-se dinheiro”, e houve dinheiro sendo impresso pelos bancos centrais.
Sua lei é sua própria vontade, suas próprias políticas econômicas imprevisíveis e arbitrárias não prestam contas a ninguém. As suas metas de inflação que anunciam previamente o quanto esse sistema quer roubar de nós, não se baseiam em nenhuma moralidade apriori.
Esse sistema se fortaleceu, alcançando sua maturidade ao longo do século XX e gestou diversas mazelas de um mundo doente, um mundo atrofiado espiritualmente e infiel para com a lei de Deus, um mundo que pela sua arrogância e orgulho, merece ser ironicamente chamado de mundo fiat.
O mundo fiat é filho do dinheiro fiat.
O dinheiro fiat serve aos parâmetros antropocêntricos e centralizadores dos seus emissores. Ao invés de ser um meio de comunicação básico através do qual o mercado transmite informações sobre a oferta e demanda de bens, produtos e serviços, o dinheiro tornou-se uma arma de guerra contra a lei de Deus.
Os reis da terra se levantam contra o Senhor e contra o seu Ungido através de seus bancos centrais, reservas fracionárias, emissão de moeda infinita e controle absoluto de capitais. O mundo fiat possui uma concepção de dinheiro que é semelhante a uma régua cujas medidas são inconstantes, como um relógio cuja duração das horas varia. Se a quantidade de dinheiro varia arbitrariamente de acordo com as políticas dos bancos centrais, ele não é nem pode ser um parâmetro para mais nada e para nada pode nos servir. Esse é o motivo pelo qual tudo se inverteu e hoje não trabalhamos para viver, mas vivemos para trabalhar. O dinheiro não mais nos serve. Nós servimos ao dinheiro. Somos todos servos de Mamon.
Eles continuarão nos escravizando dentro desse curral idólatra e ímpio. É bom para eles, já que por estarem próximos da emissão da moeda, ao recebê-la primeiro são capazes de dispersar os custos da inflação para as pontas que receberão por último. Através desse efeito, o chamado Cantillon Effect, um pobre tem certeza de que o ganho do seu trabalho precisa ser gasto o quanto antes, tendo em vista que tudo ficará mais caro amanhã. Graças a isso, mergulhamos loucamente na direção de uma preferência temporal de curtíssimo prazo e nos atolamos até o pescoço em um consumismo tresloucado. Toda sorte de impiedades se fortalecem: roubos, apostas e jogos de azar, proliferação da prostituição digital, aumento exponencial da hipergamia feminina, casamentos esfacelados, exploração empregatícia, improdutividade do trabalhador e desincentivo ao empreendedorismo.
"No longo prazo, todos estaremos mortos". Essa frase foi dita pelo profeta da MMT (Teoria Monetária Moderna), John Maynard Keynes, que justificando a necessidade de uma política inflacionista, deixa bem claro o seu descompromisso com o mandato cultural entregue por Deus ao homem. As palavras malditas proferidas pela boca de Keynes foram o antídoto que o reino das trevas usou para inebriar todo o meio acadêmico, político, econômico e cultural com uma altíssima preferência temporal.
Essas palavras erigiram um mundo focado no aqui e agora, ignorando o fim principal do homem, nos mergulhando num egoísmo hedonista autodestrutivo imparável.
Os economistas, os políticos e os bancos rejeitaram o conhecimento de várias gerações e civilizações que usavam o ouro (ouro que já estava no Jardim do Éden). Por séculos usado como um dinheiro escasso e relativamente estável no seu poder de compra devido a baixa taxa de emissão mediante a dificuldade na sua extração.
E então, abandonamos qualquer lastro em nosso dinheiro, que ainda era baseado num padrão ouro que respirava sob ajuda de aparelhos até padecer definitivamente em 1971, quando qualquer restolho de moralidade ainda existente em nosso sistema econômico global foi jogado no lixo pelo Choque Nixon.
E aqui estamos, diante do crescimento de uma tecnocracia que transcende as fronteiras de estados nacionais, que se utiliza de estratagemas tecnológicos para nos distrair, nos manter algemados, acovardados e constantemente monitorados em cada passo, em cada andar.
Hoje, dia 31 de outubro de 2024, os bancos centrais possuem uma carta na manga que eles acreditam ser o golpe final e definitivo: as CBDCs. Através das CBDCs (Central Bank Digital Currency [Moeda Digital de Banco Central) haverá controle absoluto através de um dinheiro puramente digital, programável, rastreável e interligado a um sistema de crédito social, crédito de carbono, gerenciamento sanitário e controle de movimentação. Bancos de dados cruzarão todas as informações que estão sendo coletadas de todos nós em todos esses anos através da Big Tech, e você não poderá comprar ou vender sem autorização. Hospitais poderão ser obrigados a cadastrar nascituros nesse sistema através de um pequeno microprocessador instalado em parte do seu corpo.
Novamente, querem construir a Torre de Babel.
Novamente, o Faraó quer matar todos os primogênitos.
O mesmo espírito que guiou os amalequitas, Agague e Hamã novamente se levanta com seus planos infalíveis!
É claro que vai dar certo, afinal de contas, o nosso Deus está muito surpreso com mais essa tentativa de destruir a igreja, não é mesmo?
A todos aqueles banqueiros centrais, cantillonários e globalistas, eu digo: vão em frente! Enfrentem o Deus vivo! Tentem colocar Cristo na cruz novamente!
Eles constantemente fingem que não sabem das palavras de Cristo para a sua igreja. Constantemente se esquecem que AS PORTAS DO INFERNO NÃO PREVALECERÃO SOBRE NÓS. Será que dessa vez Cristo deixará sua igreja perecer na mão desses homens?
Será que ele não providenciará um escape e dará um ponto final nessa história? Será que todos os escatólogos derrotistas, os profetas do caos e conspiracionistas desesperançosos estão corretos e todos pereceremos com um chip debaixo da pele? Se é inevitável que o sistema financeiro fiduciário culmine nas moedas digitais dos bancos centrais, para onde iremos?
"Ao que Deus lhe disse: Vem cá fora, e põe-te no monte perante o Senhor: E eis que o Senhor passou; e um grande e forte vento fendia os montes e despedaçava as penhas diante do Senhor, porém o Senhor não estava no vento; e depois do vento um terremoto, porém o Senhor não estava no terremoto; e depois do terremoto um fogo, porém o Senhor não estava no fogo; e ainda depois do fogo uma voz mansa e delicada. E ao ouvi-la, Elias cobriu o rosto com a capa e, saindo, pôs-se à entrada da caverna. E eis que lhe veio uma voz, que dizia: Que fazes aqui, Elias?"
- 1 Reis 19:11-13
Por não confiarmos na mão de Deus, nos escondemos na caverna como Elias. No momento da tribulação, é tentador buscarmos respostas extraordinárias e chamativas, chegando até mesmo a nos apegar ao poder de homens, criando falsos messias e caindo numa frustração constante.
Eu acredito que Deus trouxe uma solução para a igreja que não apareceu como um vento grande e forte que fendia os montes, nem como um terremoto ou uma chama incendiária, mas como uma voz mansa e delicada.
No meio da crise de 2008, essa brisa suave soprava vinda de uma obscura lista de e-mails de criptógrafos, matemáticos, programadores e hackers.
No dia 31 de outubro de 2008, foi lançado um singelo documento intitulado "Bitcoin: A Peer-To-Peer Electronic Cash System".
Como um inesperado e despretensioso post pode ter se convertido em um instrumento que é um verdadeiro cisne negro, uma pedra de tropeço diante daqueles engajados em erigir a Torre de Babel moderna?
Crescendo silenciosamente nas e das profundezas da Internet, o Bitcoin é uma ideia que se manifesta através de uma rede, de uma moeda e de um protocolo. O Bitcoin é um sistema de dinheiro eletrônico em que permite a cada indivíduo a responsabilidade e custódia total sobre o próprio patrimônio, com uma auditabilidade pública, ampla e sem segredos por trás das câmeras.
O código é aberto, a rede é aberta, tudo pode ser visto por todos e a rede não força ninguém a participar dela.
Crescendo naturalmente e angariando cada vez mais indivíduos que o viam como ferramenta de defesa contra o avanço do mundo fiat, o Bitcoin ainda não tem sido objeto de atenção devida por parte da igreja. Por algum motivo, tem sido da vontade de Deus que o Bitcoin se fortaleça através de uma massa de indivíduos diversificada, para só depois então ser compreendido institucional e organicamente pela igreja local e global.
Ao contrário do dinheiro fiduciário, completamente baseado no bel prazer dos emissores da moeda, as moedas na rede do Bitcoin só podem existir a partir do trabalho humano em cima de duas realidades atemporais concernentes à natureza criada pelo próprio Deus: a matemática e a energia.
De um jeito totalmente contrário ao funcionamento do dinheiro fiduciário, que possui políticas monetárias completamente imprevisíveis e ocultas, o Bitcoin é uma rede aberta, pública, auditável, com uma política monetária previsível, com uma moeda que é emitida inelasticamente, com alta divisibilidade, de maneira decrescente e também limitada.
Diferente do dinheiro fiduciário que possui um ente central que é emissor de toda a base monetária, a emissão do Bitcoin é descentralizada e distribuída voluntariamente entre diversos usuários que cooperam mutuamente para manter a rede funcionando.
Diferente do sistema fiduciário, que viola frontalmente a lei divina do “quem trabalha não come” ao emitir moeda ad infinitum beneficiando os receptores iniciais daquele dinheiro, o Bitcoin é baseado no algoritmo de prova-de-trabalho que obriga os usuários a colaborarem com a rede de maneira cooperativa para poderem emitir a moeda.
O sistema fiduciário, devido a sua centralização e terceirização de custódia, possibilita que a sua conta seja bloqueada a qualquer momento com tudo o que você tem. Já o Bitcoin é incensurável, e coloca todo o controle sobre os seus fundos sob sua própria responsabilidade sem necessidade de nenhuma instituição ou intermediário, nem precisando de qualquer ligação com a sua identidade real.
O Bitcoin hoje possui uma taxa de emissão que o torna mais escasso que o ouro, além de possuir uma escassez absoluta e específica que não pode ser mudada, também sendo mais divisível, mais facilmente transportável e também mais facilmente verificável do que o ouro.
O Bitcoin é obra da bondade de Deus, da sua pura graça comum, e isso podemos afirmar apesar de não sabermos exatamente quem o idealizou e o desenvolveu. Sabemos que toda verdade é a verdade de Deus. Desenvolvido por um indivíduo que usava o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, a rede do bitcoin ganhou vida própria e foi sustentada com o tempo por outros membros próximos da comunidade. O Bitcoin é capaz de nos ajudar na guarda de todos os deveres exigidos no oitavo mandamento e nos permite viver fora de um sistema que incentiva todos os pecados proibidos no oitavo mandamento.
Preciso falar das implicações do sistema fiduciário para o nono mandamento? Preciso dizer como um sistema baseado no roubo, balança enganosa, medidas injustas e fraudes transacionais é um sistema ancorado na mentira? Você sabe quem é o pai da mentira?
A igreja precisa se preparar para olhar para trás e ver que, se hoje entendemos que não devemos ter escravos, mesmo que no passado vários de nossos irmãos tenham tido, é por pura misericórdia de Deus. Ainda assim, astuciosamente o reino das trevas nos cegou ao ponto de conformamos com um sistema de controle muito mais sofisticado que a escravidão.
Portanto, na medida em que mais e mais pessoas enxergarem uma alternativa no Bitcoin, mais o reino das trevas irá se levantar furiosamente com armadilhas para que não ocorra um entendimento amplo e profundo. Milhões de criptomoedas foram criadas nos últimos anos com o objetivo de substituir ou suplantar o Bitcoin. Elas dizem oferecer tecnologias melhores e prometem enriquecimento súbito e exponencial, trazendo enriquecimento fácil.
Essas moedas que, muitas vezes parecem uma alternativa ingênua ao Bitcoin e que aparentam se juntar a ele no coro de oposição ao sistema fiduciário, não são muito mais do que uma tentativa de sobrevida do mundo fiat, um alçapão para o inferno na porta do céu.
Essas moedas são verdadeiros cassinos virtuais, sem fundamentos, sem ideais, centralizadas e na maior parte das vezes conectadas às instituições do mesmo sistema financeiro que o Bitcoin visa destruir. Essas moedas são verdadeiras armadilhas para roubar riquezas, distrair pessoas e fortalecer uma mentalidade de curtíssimo prazo.
Esse emaranhado de tecnologias ofusca a visão da maioria das pessoas, impossibilitando a maioria de ter uma percepção acurada sobre o Bitcoin (justamente pelo fato de o tratarem como um ativo especulativo). E isso mostra que mesmo na sua base de usuários, a maioria ainda está bem longe de entender o seu propósito moral e o problema que ele soluciona.
Meu desejo é que, através desse texto, o Espírito Santo plante uma semente que incomode e perturbe a sua consciência.
Meu desejo hoje, é que você pare e reflita.
Quero que você pense. Pense sobre o sistema financeiro fiduciário e sobre o Bitcoin como ferramenta de desfinanciamento e esvaziamento de recursos desse sistema. Pense em como esse sistema quebra a lei de Deus, se comportando de modo ímpio, mentiroso e sombrio. Certamente, pra muitos esse texto será apenas o início de uma jornada de que tem continuação.
Que esse questionamento ao mundo fiat no tocante ao aspecto econômico seja o catalisador de outros movimentos para que retornemos fielmente ao evangelho pregado por Cristo, sacramentado pela fé cristã histórica e guardado pelos santos pais da igreja, pelos reformadores e pelos puritanos.
Muito bom irmão, Deus abençoe.